Você notou que cada vez menos jovens têm interesse em seguir carreira como professores? Essa não é apenas uma impressão que temos sobre o momento atual da sociedade: é um fato. A Fundação Victor Civita (FVC), a pedido da Fundação Carlos Chagas, realizou uma pesquisa que revela que somente 2% dos estudantes do Ensino Médio consideram como opção para o vestibular o curso de Pedagogia ou qualquer outro ligado ao ensino.
Esse estudo, feito em 2010, ouviu 1.501 alunos do terceiro ano do Ensino Médio, tanto de escolas públicas quanto particulares. Independentemente do tipo de instituição, as profissões relacionadas à área de educação ficaram longe das opções mais escolhidas. O curioso é que, nas instituições públicas, o curso de Pedagogia foi o 16º mais citado; já nas instituições privadas, ele foi o 36º. Isso aponta que jovens provenientes da rede pública e de setores menos favorecidos da sociedade tendem a procurar mais por essa carreira.
Essa pesquisa foi além. Ela tentou entender as razões desse baixo interesse dos jovens em seguir carreira na educação. O resultado apontou como principais motivos o fato de a profissão ser considerada desgastante, desvalorizada socialmente e de baixa remuneração.
O impacto da escolha profissional desses jovens já reflete no cotidiano das instituições de ensino. Somente em São Paulo, a maior cidade do país, o déficit de professores chegou a 4,7 mil profissionais em 2016. As áreas mais afastadas do centro da cidade são as que mais sofrem. Da mesma maneira, as instituições de ensino demoram para encontrar bons profissionais.
Mesmo diante de uma realidade nada animadora, existem alguns mecanismos que atraem bons profissionais para o seu quadro de professores. Continue a leitura e saiba como contratar os melhores professores para sua instituição de ensino!
O que precisa melhorar para os professores na rede de ensino?
As mesmas instituições envolvidas com a pesquisa citada no início desse texto foram em busca de alternativas que pudessem reverter o quadro do baixo interesse de jovens pela carreira em educação. 17 especialistas que atuam em diversas áreas do ensino participaram de um debate para levantar e propor ideias.
Esse encontro resultou em um conjunto de alternativas e soluções para manter os bons professores que já fazem parte do quadro atual e atrair outros tão bons quanto ou melhores. Esses especialistas chegaram a um consenso: o problema deve ser atacado simultaneamente em diversas frentes, não com o foco somente em uma solução ou em outra. Vamos ver o que eles propuseram?
Oferecer melhores salários
De modo geral, o salário de um professor se encontra em um patamar inferior quando o comparamos a outras profissões que também exigem ensino superior. Dentro do contexto desastroso da maioria das salas de aula do nosso país, que enfrenta superlotação, indisciplina, falta de estrutura e de recursos, o baixo salário é a gota d’água. Isso tem levado professores a encarar a docência como uma opção passageira, ponte para que ele migre para uma outra profissão.
Propor bons planos de carreira
Um bom plano de carreira oferece a segurança que a maioria dos profissionais deseja. Ele norteia o caminho do desenvolvimento profissional que deve ser seguido pelo professor e as etapas que serão cumpridas ao longo da jornada. O plano de carreira estimula o docente, pois ele sabe que os benefícios virão com o tempo e dependem unicamente de seu esforço e dedicação.
Melhorar a formação dos professores
O docente pode ter sua formação melhorada com o auxílio da instituição para a qual trabalha, que pode oferecer cursos de capacitação, extensão, educação continuada, pós-graduação, mestrado e até doutorado — tudo isso pode ser fruto de parcerias com outras instituições de ensino.
Melhorar a formação do professor não significa prepará-lo para a concorrência, pois esse estímulo ao estudo pode ser feito paralelamente a uma renovação de contrato que prevê uma dedicação maior desse profissional à sua instituição.
Resgatar o valor dos professores na sociedade
Faz parte do papel das instituições de ensino resgatar o valor do professor na sociedade. Isso pode ser feito por meio de ações internas (campanhas educativas, planos de carreira e valorização do profissional) e ações externas (valorização do corpo docente em material de propaganda e programas que levem a sociedade para dentro da escola). Tudo começa quando a autoestima desses profissionais é resgatada.
Tratar o professor como um profissional
Diferentemente do que pensam algumas pessoas, ser professor não é um dom. Ele usa o conhecimento didático, matéria-prima do seu trabalho, para atuar como profissional. Quando esse profissional é mais qualificado, ele merece mais incentivos financeiros, uma posição diferenciada no quadro da escola e participação nas tomadas de decisão. Os professores mais jovens, menos experientes, devem ser incentivados a ir em busca desse mesmo patamar, pois a instituição de ensino é uma empresa.
Como a sua instituição de ensino pode atrair os melhores professores?
Além dos pontos que citamos acima e que são o resultado de uma pesquisa feita por duas instituições renomadas em nosso país, a escola pode e deve fazer investimentos em outros meios para atrair os melhores professores. Quem define a ordem dos passos a serem dados é você, diretor da escola, de acordo com as necessidades e prioridades da instituição.
Cuide da estrutura
Todo profissional precisa de uma estrutura mínima para conseguir trabalhar. O mesmo acontece com os professores. Equipe suas salas de aula com bons recursos multimídia, pois assim as disciplinas poderão ser ensinadas de maneira mais prática e funcional para os alunos. O mesmo vale para o conforto desse profissional na sala dos professores, estrutura da cantina e demais dependências que colaboram com o seu trabalho.
Ofereça formação continuada para os professores
O estímulo à formação continuada pode ser feito de diversas maneiras, por meio de incentivos financeiros, responsabilidades diferenciadas do restante da equipe ou cargos de liderança.
Um profissional atualizado com as novidades de sua área de atuação é reconhecido e desejado pelo mercado, portanto faça com que o seu time seja fortalecido por meio da formação continuada e valorize cada membro da instituição. O docente que deseja crescer na carreira e está disposto a isso enxerga nesse tipo de incentivo uma motivação para querer fazer parte de sua equipe.
Tenha uma boa política salarial
A política salarial deve ser justa, principalmente no que diz respeito aos profissionais mais experientes. Os mais novos podem ser incentivados, por meio da meritocracia, a chegar ao patamar dos profissionais mais renomados. Quando a política salarial é clara e justa, os bons profissionais se sentem mais motivados para trabalhar em sua instituição. A falta de perspectiva de crescimento afasta docentes que buscam desenvolvimento profissional.
Priorize a rapidez, sem perder o critério
Os processos seletivos não devem ser extensos demais. Quanto mais tempo você gasta em um processo seletivo, menores são as chances de conseguir um bom profissional. Isso ocorre porque bons profissionais são desejados pelo mercado de trabalho e raramente estão participando de um único processo seletivo. Enquanto você está elaborando mais etapas para realizar no processo, esse profissional pode ser chamado pelo seu concorrente.
Construa uma reputação
Faça uma avaliação da reputação de sua instituição de ensino como empregadora. Quando a escola não tem uma boa reputação nesse sentido, dificilmente consegue atrair bons professores. Antes de ser contratado ou enviar currículo, um profissional sempre pede orientação a outro. Caso identifique esse problema na sua instituição, reverta a situação mudando a postura em relação aos contratos e colocando mais qualidade em seus serviços.
Seja antecipado
Não deixe para realizar as contratações de sua escola somente quando for necessário. Seja antecipado e faça sondagens no mercado de trabalho com uma certa frequência, principalmente quando tiver uma previsão de abertura de vaga para nova contratação. Bons profissionais não ficam disponíveis por muito tempo e, na maioria dos casos, já estão empregados.
Capriche na descrição das vagas para os professores
Quando precisar anunciar uma vaga de trabalho em sua escola, jamais seja genérico. Coloque na descrição tudo o que a instituição de ensino deseja e espera do profissional, os benefícios e as obrigações. Quanto mais detalhada for a descrição da vaga, maiores serão as chances de você encontrar bons profissionais que estejam de acordo com as necessidades de sua instituição.
Como definir os requisitos para seleção de professores?
A definição dos requisitos ao contratar professores, durante uma seleção, segue como premissa três pilares: as necessidades da escola, o mercado de trabalho e o planejamento para o futuro da instituição. Vamos falar mais sobre cada um deles?
Verifique quais são as necessidades da escola
O primeiro passo para definir os requisitos de uma seleção de professores é verificar quais são as necessidades da escola. Existe alguma disciplina que esteja precisando mais de profissionais que outras? Priorize a área cuja demanda for mais urgente.
Feito isso, verifique qual é o tipo de profissional que a sua instituição de ensino necessita. Ele precisa ter fluência em outros idiomas? Ele deve saber operar equipamentos eletrônicos que estejam em sala de aula? Qual é o nível mínimo de formação profissional que a escola deseja?
Observe o que o mercado de trabalho pede
O segundo passo é fazer uma pesquisa nas vagas das outras instituições de ensino. Veja quais são os requisitos delas para aceitar um profissional novo em seu quadro de colaboradores. Faça um levantamento em cima desses requisitos para saber o que o mercado de trabalho pede, de modo que as suas exigências não fiquem fora do contexto atual desses profissionais.
Pense no planejamento para o futuro
O terceiro passo é conseguir alinhar os requisitos para a seleção de professores com o que a instituição de ensino deseja para o futuro. Se a escola quer desenvolver e capacitar profissionalmente seu quadro de professores com o objetivo de formar um time mais coeso e unido, talvez seja necessário selecionar profissionais mais jovens e dispostos a aprender.
É importante que os requisitos estejam alinhados com o futuro projetado pela instituição, pois o contrário gera divergências e prejudica seus planos de crescimento.
O que avaliar em um professor candidato?
A avaliação de um professor candidato deve ser minuciosa, levando em consideração o currículo e realizando entrevistas que detalhem todas as informações necessárias para a instituição. O fim do processo deve ser a solicitação de uma aula, para que as equipes responsáveis pela seleção e gestão da escola possam avaliá-lo na prática.
Os critérios de avaliação de um professor candidato devem ser expostos de maneira clara desde o momento em que a vaga é publicada, pois eles orientam esse profissional para que possa providenciar o que realmente é necessário para a instituição de ensino. Isso facilita o processo seletivo e melhora as chances de encontrar profissionais que estão com os valores alinhados aos da instituição.
Veja abaixo as características e requisitos que são importantes na hora de avaliar um professor candidato:
A experiência anterior
Por mais jovem que seja o candidato, é necessário avaliar sua experiência anterior. Nesse aspecto, leve em consideração o tempo que esse profissional se dedicou a outras instituições de ensino. Muitas passagens rápidas por diversas instituições de ensino podem indicar uma certa instabilidade do candidato, assim como a constante mudança de foco em sua carreira.
As características pessoais
Sua escola deseja um tipo de perfil de professor, portanto busque as características que compõem esse perfil nos candidatos. É provável que você não encontre facilmente profissionais que atendam 100% de suas expectativas, porém entenda que alguns pontos em comum já servem como base para a construção de um relacionamento em que as duas partes conseguem se entender.
Além do perfil traçado por sua instituição de ensino, procure nos candidatos características como capacidade de inovar e se adaptar a mudanças, resiliência, flexibilidade, dinamismo, comprometimento e integridade.
O conhecimento em novas tecnologias dos professores
Não há como ignorar as novas tecnologias. O bom profissional, atualmente, integra seu trabalho com elas. A tecnologia está tão presente no cotidiano de pessoas, grupos sociais e famílias que o ensino não só pode, como deve ser feito por meio dela. Saber quais são as novas tecnologias e aprender a usá-las é básico, pois permite uma maior integração com a sociedade. O profissional que ainda resiste a elas coloca uma barreira enorme entre ele e seus alunos.
A leitura desse profissional
Ao contratar professores, questione o que eles estão lendo. O professor candidato deve estar sempre atualizado, com a leitura em dia. Ele precisa ter o hábito de ler, pois isso serve como exemplo para os alunos. Além disso, o hábito da leitura é fundamental para a construção de uma boa base cultural, atuando também como fonte de informação para si e seu trabalho.
O profissional de ensino precisa ser bem informado, pois isso possibilita que ele conheça novas metodologias e até mesmo os resultados das pesquisas que acontecem em sua área de atuação. Isso é básico para que ele consiga se desenvolver profissionalmente.
A atualização constante
Antigamente, a educação era apenas uma etapa na vida dos profissionais. Eles conseguiam o diploma da graduação e paravam de estudar. Em parte, isso acontecia pela falta de recursos e oportunidades. Esse panorama mudou e o profissional de hoje é pressionado pelo mercado de trabalho a estar constantemente atualizado.
O profissional da docência precisa se atualizar permanentemente, pois ele é o responsável por ensinar o que há de mais atual a seus alunos. Essa atualização deve ser feita por meio de cursos de reciclagem, participação em congressos e seminários, especializações e encontros com outros profissionais da mesma área.
A postura pessoal
A principal característica na postura pessoal que você deve buscar ao contratar professores é o espírito de coletividade. O docente precisa saber trabalhar em equipe, pois até mesmo o conceito de equipe mudou. Atualmente, cada indivíduo continua sendo responsável por seu trabalho dentro de um time, porém ele é incentivado a participar das etapas dos outros por meio de sugestões e críticas.
Essa mudança veio com o reconhecimento da importância do resultado do trabalho em equipe, que afeta todos os membros. Se um indivíduo não vai bem, o todo pode ser prejudicado. Por isso a importância do espírito de coletividade.
O domínio de classe
Esse é o ponto de partida para que um docente consiga iniciar o trabalho com os alunos. O professor candidato deve ressaltar as regras em classe que promovem a disciplina, porém sempre de forma democrática e justa. Cabe ao profissional de ensino enfatizar quais regras são obrigatórias e necessárias, além de esclarecer quais são as consequências do não cumprimento delas. É um trabalho de cooperação!
O domínio de outros idiomas
O profissional da docência, primeiramente, deve falar e escrever corretamente a língua portuguesa. Em segundo lugar, o mercado de trabalho exige que todos os profissionais consigam se comunicar em outro idioma. De modo geral, os candidatos ao cargo de professor devem saber inglês, pois, além de ser um idioma global, ele facilita o acesso às informações que são divulgadas por instituições de ensino e publicações especializadas do exterior, que realizam estudos e pesquisas com mais frequência que o nosso país.
Quais são os erros mais comuns na hora da contratação de professores que você precisa evitar?
Priorizar a afinidade e deixar de lado a competência
O principal objetivo de uma contratação é encontrar o profissional mais competente, não o mais agradável. É importante que haja uma afinidade com o candidato, porém isso não pode cegar quem está gerenciando o processo de seleção, principalmente na hora de fazer uma avaliação mais objetiva. Crie uma tabela de pontuação para avaliar a habilidade e a personalidade de cada candidato para, posteriormente, fazer um balanço.
Fazer um processo seletivo de professores rápido ou lento demais
O processo seletivo deve acontecer dentro do tempo necessário — nem rápido, nem lento demais. Mobilize todos os envolvidos no processo de seleção para que tomem as decisões no tempo certo, sem procrastinação.
Quando o processo é rápido demais, uma quantidade menor de candidatos é chamada e, geralmente, não se encontra o profissional desejado. Já quando o processo é muito lento, ocorre o que citamos anteriormente: você pode perder o candidato para o seu concorrente.
Não pedir referências o suficiente
Não há nada de errado em pedir referências para ex-gestores e ex-supervisores do candidato. O problema é quando elas são somente desses profissionais. Peça referências de colegas de trabalho e até mesmo de outras pessoas que trabalhavam com ele. As informações provenientes dessas pessoas são importantes para que você identifique habilidades como o espírito de equipe.
Focar na contratação de professores generalistas
Se você deseja que a sua instituição de ensino cresça, mude o foco de contratação de generalistas para especialistas. Os especialistas dominam as áreas que estudaram e podem proporcionar um maior conhecimento sobre elas do que os generalistas, que têm uma visão mais macro.
Depender apenas dos anúncios de vagas
Lembra do que foi dito no tópico 3? Seja antecipado! Não fique dependendo apenas dos anúncios das vagas na internet. Redes sociais como o LinkedIn podem ajudá-lo a encontrar bons profissionais. Publicar a vaga e esperar pelos melhores candidatos não é garantia de sucesso, portanto coloque sua equipe para caçar verdadeiros talentos.
Optar pelo colaborador mais barato
O momento da economia pode não ser o melhor, porém ainda vale a máxima que compara quantidade com qualidade. Optar por um colaborador porque ele é simplesmente “mais barato” é algo injusto com ele e com a sua instituição, pois não haverá uma sinergia entre a necessidade da escola e o que o profissional pode oferecer.
As informações que apresentamos aqui servem para que você possa refletir sobre a importância de contratar e investir nos melhores profissionais do ensino. Para contratar professores capacitados para sua escola, invista na elaboração de um processo seletivo justo, no tempo certo e com informações claras. Isso é essencial para que você encontre o talento que busca para sua instituição.
Todos os investimentos citados ao longo do texto resultam em profissionais que tenham formação de qualidade, não param de estudar, são didáticos, motivam e inspiram os alunos e a sociedade, entendem a realidade dos estudantes, estimulam a criatividade e estão disponíveis para o diálogo. Esses docentes se sentem verdadeiramente valorizados e vestem a camisa da instituição de ensino.
Quer saber mais sobre a melhor forma de gerir sua instituição de ensino? Confira agora as 8 características de uma gestão escolar de qualidade!